
Foto: Adriano Machado/Crusoé
O deputado federal Fernando Bezerra Coelho Filho tinha acabado de ser alvo de uma ação da Polícia Federal. Agentes vasculharam a casa e o gabinete do parlamentar pernambucano do DEM horas antes, em busca de provas para uma investigação em que ele é suspeito de receber propinas de empreiteiras. São quase cinco da tarde. Ele chega apressado para embarcar em jatinho particular que o espera em um hangar, a 35 quilômetros do Congresso Nacional. A pista de pouso é clandestina, e caiu no gosto dos poderosos que procuram escapar dos olhares curiosos, da burocracia e (por que não?) da rígida fiscalização do aeroporto internacional de Brasília, que fica até mais perto da região central da cidade.
Fernando Bezerra Filho, o alvo da PF naquela quinta-feira, 19 de setembro, chegou ao terminal com a família, a bordo de uma picape preta, com vidros escuros. Dois homens carregaram quatro bolsas do veículo ate o avião. O Embraer Phenom 100 decolou menos de cinco minutos depois. O jato de 16 milhões de reais, com capacidade para sete pessoas, pertence a uma empresa do setor de energia — Bezerra Filho, é importante lembrar, foi ministro de Minas e Energia de maio de 2016 a abril de 2018. O dono do portentoso avião, Emival Ramos Caiado Filho, é primo do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do mesmo DEM do deputado. A investigação de que Bezerra Filho é alvo com o pai, o senador Fernando Bezerra, filiado ao MDB e líder do governo Bolsonaro no Senado, envolve obras no Nordeste, como a transposição do Rio São Francisco. Os contratos suspeitos foram firmados quando Bezerra pai, conhecido por sua facilidade em se aproximar de todos os governos, era ministro da Integração Nacional de Dilma Rousseff. Pai e filho são suspeitos de receber 5,5 milhões em propinas.
Os agentes federais encarregados de cumprir a ordem de busca expedida pelo ministro Luís Roberto Barroso mal tinham deixado o Congresso quando Bezerra Filho se acomodava a bordo do jatinho que o levaria para longe de Brasília. Para quem quer discrição, o aeroporto clandestino é perfeito. Também por isso, virou moda. Políticos e empresários têm recorrido cada vez mais às facilidades do terminal pirata. Sem pagar taxas aeroportuárias ou se submeter ao olhar de fiscais da Receita ou mesmo a simples aparelhos de raios-x, tripulantes e passageiros levam e trazem o que querem. A única portaria, com um vigilante particular (e desarmado), serve só para anotar as placas dos carros que entram e saem. Nenhum deles é revistado. Apenas os carros mais simples, de operários que erguem hangares a toque de caixa, costumam ser parados para identificação dos ocupantes.
Quando pousa em Brasília, o Phenom 100 em nome da empresa do primo de Ronaldo Caiado estaciona em um hangar operado por um empresário que nada paga para ocupar e explorar o espaço. O mesmo hangar ainda abriga dois aviões de uma empresa agropecuária e o King Air do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB. A área pertence a uma estatal do governo local e foi invadida, anos atrás, por uma família de fazendeiros. Em agosto, o Superior Tribunal de Justiça mandou que o terreno fosse desocupado e devolvido ao poder público. Mas o terminal não só continua em pleno funcionamento como vem sendo ampliado, à vista dos políticos que por ali transitam.
Leia a reportagem na íntegra de Renato Alves para a Revista Crusoé acessando AQUI