17/09/2023 08h48
Ilustração mostra a trombectomia mecânica: stent retira o coágulo de um vaso cerebral | Imagem: Reprodução/Saludiario
Ercília de Lima, 41, emocionou os médicos do Hospital das Clínicas, em São Paulo, ao deixar a UTI após um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que a deixou “perto da morte”. Ela foi salva por uma trombectomia mecânica, técnica que reduz em quase três vezes as sequelas do AVC isquêmico, a principal responsável por incapacidade motora no mundo.
Aprovada no SUS em 2021, a técnica ainda não foi incorporada pelo governo, deixando cerca de 73 mil pacientes sem o tratamento desde então.
Mas a técnica ainda usada no SUS é a trombólise: um remédio dissolve o coágulo desde que ministrado quatro horas e meia após os sintomas.
Consolidada em estudos internacionais na década passada, a trombectomia mecânica é uma cirurgia pouco invasiva. Ela é recomendada para o AVC isquêmico, quando um vaso no cérebro é obstruído por um coágulo. Esse tipo de derrame equivale a 80% de todos os AVCs, segundo o Ministério da Saúde.
A trombectomia desobstrui o vaso em 77% dos casos, contra 11% da trombólise. 46% de quem passou pelo procedimento ganharam independência em três meses, contra 26,5% do outro grupo, segundo um estudo publicado em 2017 na ‘New England Journal of Medicine’.
No Brasil, uma pesquisa avaliou por dois anos a trombectomia em 221 pacientes de 12 hospitais. Financiado pelo Ministério da Saúde, a pesquisa da RNPAVC — publicada na ‘New England Journal of Medicine’ em 2020 — constatou que a trombectomia reduziu as mortes em 16% e aumentou em duas vezes e meia a chance de o paciente voltar para casa sem sequelas.
“O tempo de internação caiu de 25, 30 dias para três, cinco dias”, diz Mont’Alverne, que participou da pesquisa e realiza o procedimento no Hospital Geral de Fortaleza.
AVC é a segunda principal causa de óbitos no mundo
Todo os anos, mais de 12 milhões de pessoas têm algum tipo de AVC no mundo, com 6,5 milhões de mortes — a segunda principal causa de óbitos, atrás apenas de problemas no coração. No Brasil, o AVC matou 50 mil no primeiro semestre deste ano e 114 mil em 2022, segundo os Cartórios de Registro Civil do Brasil.
Por que não chega ao SUS?
Aprovação foi em 2021. O pedido para autorizar o tratamento chegou em 2020 à Conitec, órgão responsável por decidir as técnicas incorporadas ao SUS. Em fevereiro de 2021, o órgão deu até seis meses (agosto) para o SUS oferecer a trombectomia a pacientes que registraram os primeiros sintomas até oito horas antes. Em dezembro, estendeu o prazo para 24 horas, mas a incorporação não aconteceu até hoje.
Devido ao atraso, até 73 mil ficaram sem atendimento
A conta da RNPAVC — que leva em consideração a incidência de AVC isquêmico sobre a população com acesso exclusivamente ao SUS— estima que 99 pessoas poderiam se beneficiar da trombectomia todos os dias no Brasil. Entre o prazo máximo para a incorporação da técnica, em agosto de 2021, e 31 de agosto deste ano, 73.458 pessoas poderiam ter recebido o tratamento.
Falta dizer de onde virá o dinheiro
De acordo com Mont’Alverne, o procedimento ainda não foi incorporado porque o governo federal não publicou portaria indicando de onde sairá o dinheiro para bancar a técnica e quais hospitais estariam capacitados. O tratamento só é oferecido em hospitais particulares ou em algumas unidades públicas bancadas por governos estaduais, como HC de SP e o Hospital Geral de Fortaleza.
Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu sobre a necessidade de publicar a portaria. Disse em nota que “não foi efetivada a incorporação [da trombectomia] pela antiga gestão da pasta”, em referência ao governo anterior.
UOL, por Wanderley Preite Sobrinho

Ercília de Lima, 41, emocionou os médicos do Hospital das Clínicas, em São Paulo, ao deixar a UTI após um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que a deixou “perto da morte”. Ela foi salva por uma trombectomia mecânica, técnica que reduz em quase três vezes as sequelas do AVC isquêmico, a principal responsável por incapacidade motora no mundo.
Aprovada no SUS em 2021, a técnica ainda não foi incorporada pelo governo, deixando cerca de 73 mil pacientes sem o tratamento desde então.
Mas a técnica ainda usada no SUS é a trombólise: um remédio dissolve o coágulo desde que ministrado quatro horas e meia após os sintomas.
Consolidada em estudos internacionais na década passada, a trombectomia mecânica é uma cirurgia pouco invasiva. Ela é recomendada para o AVC isquêmico, quando um vaso no cérebro é obstruído por um coágulo. Esse tipo de derrame equivale a 80% de todos os AVCs, segundo o Ministério da Saúde.
A trombectomia desobstrui o vaso em 77% dos casos, contra 11% da trombólise. 46% de quem passou pelo procedimento ganharam independência em três meses, contra 26,5% do outro grupo, segundo um estudo publicado em 2017 na ‘New England Journal of Medicine’.
No Brasil, uma pesquisa avaliou por dois anos a trombectomia em 221 pacientes de 12 hospitais. Financiado pelo Ministério da Saúde, a pesquisa da RNPAVC — publicada na ‘New England Journal of Medicine’ em 2020 — constatou que a trombectomia reduziu as mortes em 16% e aumentou em duas vezes e meia a chance de o paciente voltar para casa sem sequelas.
“O tempo de internação caiu de 25, 30 dias para três, cinco dias”, diz Mont’Alverne, que participou da pesquisa e realiza o procedimento no Hospital Geral de Fortaleza.
AVC é a segunda principal causa de óbitos no mundo
Todo os anos, mais de 12 milhões de pessoas têm algum tipo de AVC no mundo, com 6,5 milhões de mortes — a segunda principal causa de óbitos, atrás apenas de problemas no coração. No Brasil, o AVC matou 50 mil no primeiro semestre deste ano e 114 mil em 2022, segundo os Cartórios de Registro Civil do Brasil.
Por que não chega ao SUS?
Aprovação foi em 2021. O pedido para autorizar o tratamento chegou em 2020 à Conitec, órgão responsável por decidir as técnicas incorporadas ao SUS. Em fevereiro de 2021, o órgão deu até seis meses (agosto) para o SUS oferecer a trombectomia a pacientes que registraram os primeiros sintomas até oito horas antes. Em dezembro, estendeu o prazo para 24 horas, mas a incorporação não aconteceu até hoje.
Devido ao atraso, até 73 mil ficaram sem atendimento
A conta da RNPAVC — que leva em consideração a incidência de AVC isquêmico sobre a população com acesso exclusivamente ao SUS— estima que 99 pessoas poderiam se beneficiar da trombectomia todos os dias no Brasil. Entre o prazo máximo para a incorporação da técnica, em agosto de 2021, e 31 de agosto deste ano, 73.458 pessoas poderiam ter recebido o tratamento.
Falta dizer de onde virá o dinheiro
De acordo com Mont’Alverne, o procedimento ainda não foi incorporado porque o governo federal não publicou portaria indicando de onde sairá o dinheiro para bancar a técnica e quais hospitais estariam capacitados. O tratamento só é oferecido em hospitais particulares ou em algumas unidades públicas bancadas por governos estaduais, como HC de SP e o Hospital Geral de Fortaleza.
Procurado, o Ministério da Saúde não respondeu sobre a necessidade de publicar a portaria. Disse em nota que “não foi efetivada a incorporação [da trombectomia] pela antiga gestão da pasta”, em referência ao governo anterior.
UOL, por Wanderley Preite Sobrinho