Imagem: Alex RégisO Rio Grande do Norte registrou o maior aumento proporcional de estelionatos virtuais no Brasil, com crescimento de 165% entre 2023 e 2024. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o estado passou de 1.888 ocorrências para 5.007 em apenas um ano. Em comparação, a média nacional de aumento foi de 26%.A taxa por 100 mil habitantes no RN alcançou 145,3, a segunda mais alta do Nordeste – atrás apenas de Alagoas (230) – e a décima maior do país. Estados como Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco não apresentaram dados.
O crime de estelionato eletrônico, tipificado no artigo 171 do Código Penal, inclui fraudes eletrônicas desde 2021. A pena prevista varia de 4 a 8 anos de reclusão.
Especialistas apontam migração do crime para o ambiente digital
De acordo com a advogada Beatriz Torquato, presidente da Comissão de Direito Digital da OAB-RN, o crescimento se explica por fatores como a migração do crime patrimonial físico para o digital. “Com o avanço das tecnologias de bloqueio e rastreamento, o roubo de celulares se tornou menos atrativo. Os criminosos agora apostam em golpes digitais, que oferecem mais lucro e menor risco de flagrante”, disse.
Ela também destaca que o excesso de exposição nas redes sociais facilita a atuação de criminosos, que utilizam técnicas de engenharia social para aplicar golpes como clonagem de contas, emissão de boletos falsos e cobranças indevidas.
O especialista em cibersegurança Rodrigo Jorge lembra que a impunidade pode ser um fator determinante. “Até recentemente, o RN não tinha uma delegacia especializada para investigar esses crimes. Talvez a estrutura atual ainda não dê conta da demanda crescente”, afirma.
Para ele, o número elevado também pode refletir uma população mais consciente, que busca denunciar. “A imprensa local tem papel importante ao divulgar constantemente orientações de prevenção, o que pode contribuir para o aumento dos registros oficiais.”
Delegacia especializada foi criada em 2024
Em fevereiro deste ano, foi criada a Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC), que atua em investigações sobre fraudes eletrônicas, invasões de dispositivos, disseminação de conteúdo ilegal e crimes contra a propriedade intelectual.
Entre os golpes mais recorrentes estão:Falsos sites de leilões, imóveis e veículos;
Golpe do Pix, com criminosos se passando por amigos ou familiares;
Golpe do falso advogado, que promete indenizações em processos inexistentes.
A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Civil para comentar os dados do Anuário, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.